05 julho 2012

Conjuntura em Foco

Pesquisador do IPEA alerta para que modelo de crescimento baseado em estimular o consumo precisa ser complementado por investimentos públicos para dar mais fôlego à economia brasileira. 

Leia a íntegra do Boletim Conjuntura em Foco número 19




Para Ipea, modelo de crescimento baseado em consumo está esgotado
Estratégia deve focar em investimento. Caso contrário, governo "enxuga gelo"

Fabiana Ribeiro *

Um modelo de crescimento que passe por estimular o consumo está esgotado. Em vez disso, o governo deveria apostar em investimentos públicos — que, por sua vez, daria novo fôlego à economia brasileira. É o que defende Roberto Messemberg, coordenador do Grupo de Análise e Previsões do Ipea, que divulgou ontem o Boletim de Conjuntura em Foco da instituição. Para ele, não há mais demanda forte o suficiente para dar conta dos estímulos dados a vários setores.

— Se o governo não considerar essas medidas como parte de um plano maior, o que se faz é apenas enxugar gelo, apagar incêndio ou tapar o sol com a peneira. Ou seja: não faz nada.

Agora, o país precisa que o governo seja o protagonista de investimentos em setores como infraestrutura e energia — disse ele, acrescentando que a crise ajudou a conter a demanda brasileira.

— Houve enfraquecimento de segmentos, como o crédito, que dinamizavam a demanda doméstica.

O consumo perde o fôlego ainda porque as famílias estão com elevados nível de endividamento e inadimplência. Dados do Ipea apontam que o comprometimento de renda mensal das famílias com o serviço das dívidas (com ajuste sazonal) também apresenta tendência de alta no último ano. Em abril do ano passado, o serviço das dívidas representava 19,8% da renda mensal e passou para mais de 22,1% da renda mensal em abril de 2012.

— E os programas de redistribuição de renda, como Bolsa Família e mesmo o aumento do salário mínimo, já implantados. Com isso, os maiores ganhos já foram alcançados.

Redução de juros é essencial, mas insuficiente O esfriamento do varejo se nota no humor dos lojistas. Após três meses de melhora, o Índice de Confiança do Comércio da Fundação Getulio Vargas piorou, apresentando queda de 3,7% de abril a junho, ante o mesmo período do ano anterior. Em relação aos meses seguintes, o clima também é de desconfiança, tendo o indicador recuado 4,3%. Desânino que se explica nas vendas.

Um exemplo recai sobre o setor de vestuário que, com vendas fracas e estoque altos, já deu início à liquidação de peças da estação, no início do inverno.

Com aumento da taxa de investimento, o país elevaria sua capacidade produtiva, sem gerar inflação, acrescentou o economista: — É isso que vai garantir o crescimento sustentado.

Messemberg lembra que o Banco Central tem feito sua parte ao baixar os juros — movimento desde agosto de 2011. Porém, diz, apenas uma Selic menor não cria condições para novos investimentos privados: — A redução de juros é essencial, mas não é suficiente para fazer a taxa de investimento subir — disse Messemberg, para quem o governo, ao não apostar o investimento, está privilegiando o superávit primário. — Não consigo concordar com isso.


* O Globo, 04/07/2012



 
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