12 novembro 2012

Gestão Haddad vai testar programas para os que ascenderam na última década

Contingente que saiu da pobreza é eleitorado decisivo na capital paulistana.

Segundo André Singer, ele  explica parte importante da vitória de Haddad.


O muro passa pelo meio
André Singer


Com a eleição de Fernando Haddad, pela primeira vez o PT ganhou em São Paulo sem o apoio do PSDB.

Em 1988, antes da regra de maioria absoluta, quando ficou claro que Erundina tinha a maior chance de derrotar Maluf, a base social tucana garantiu-lhe os votos necessários para que chegasse à prefeitura. Em 2000, Marta superou outra vez Maluf com o apoio de Covas. Agora, o PT alcança o governo municipal contra a vontade dos peessedebistas, reproduzindo na cidade, com uma década de atraso, a experiência nacional.

Isso aconteceu, sobretudo, porque, no segundo turno, o petista teve sucesso na penúltima periferia, levando vantagem de 30 pontos percentuais num bairro como Itaquera, onde Gilberto Kassab tivera maioria em 2008. Além do mais, o PT diminuiu a superioridade do PSDB no centro expandido, chegando a superá-lo em Santa Ifigênia, o que não acontecia havia 12 anos.

Os redutos, entretanto, continuaram fechados em torno das respectivas siglas. Jardim Paulista e Indianópolis, no perímetro central, deram 50 pontos a mais para o PSDB. Já em Parelheiros e Cidade Tiradentes, na extrema periferia, houve 60 pontos a favor do PT. No atual alinhamento, são as regiões intermediárias que decidem o pleito paulistano, funcionando como pêndulo.

É sobre tal setor mediano que passa o muro da vergonha, mencionado por Haddad no discurso da vitória. Para diminuir o fosso entre a metrópole rica e a pobre, será preciso obter o consenso dos que estão no meio, pois deles dependerá a reeleição.

Eis o motivo de falar-se no PT que a gestão Haddad será um laboratório de programas para os que ascenderam na última década, saindo da pobreza medida pela renda para uma condição intermediária. Daí também a insistência do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na necessidade de o PSDB ter uma mensagem para os emergentes. Em São Paulo, eles são decisivos na disputa entre PT e PSDB e talvez em breve o sejam no Brasil inteiro.

Do ponto de vista político, parece um erro pensar que se trata de nova classe média. Configura-se mais como um novel proletariado, que deve ter a cara do capitalismo lulista. Mas, como esta ainda não ficou clara, tampouco é nítido o perfil dos seus membros. Serão jovens assalariados que caminham para os sindicatos ou microempreendedores interessados em diminuir os impostos?

O lulismo já descobriu o caminho para beneficiar os mais pobres. Mas, desta feita, será necessário desenhar políticas capazes de dialogar com o Brasil que o próprio lulismo está gerando e cujos contornos ninguém conhece muito bem.

ANDRÉ SINGER, professor do Departamento de Ciência Política da USP. Artigo publicado na Folha de S. Paulo, 10/11/2012.
 


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